A adesão oficial de Angola enquanto membro observador da Organização Internacional da Francofonia (OIF) foi hoje formalizada em Paris, durante a 19ª Cimeira dos países membros, após cinco anos da sua candidatura à francofonia.
Segundo um comunicado de imprensa da Embaixada de Angola em França, “Esta candidatura reflecte o compromisso de Angola com o reforço da cooperação internacional e o desejo de participar mais activamente nas iniciativas de promoção da língua e da cultura francesa, fundamentais para o desenvolvimento global da educação e da diplomacia cultural”.
A Cimeira da Francofonia “reforça os laços entre os países membros e candidatos, como Angola, e destaca a importância da língua e cultura francófonas no cenário global, sendo também uma plataforma importante para o diálogo, cooperação e intercâmbio em várias áreas, como a educação, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos”.
Na sexta-feira, a delegação angolana, liderada pela ministra de Estado para a Área Social, Maria do Rosário Bragança, participou na cerimónia de abertura da cimeira na Cidade Internacional da Língua Francesa em Villers-Cotterêts, 60 quilómetros a norte de Paris, acompanhada pela embaixadora de Angola em França, Guilhermina Prata.
A OIF, que realiza a cimeira pela primeira vez em 33 anos em França, é um organismo de defesa e promoção da democracia e do Estado de Direito, inclui uma grande parte dos países da África Ocidental e Central, antigas colónias francesas.
A francofonia agrupava até agora 88 países, como a República Centro-Africana, o Senegal e a República Democrática do Congo, com a qual Angola partilha mais de 2.500 quilómetros de fronteira. Entretanto, três países foram suspensos devido a golpes de Estado que conduziram a regimes militares: Mali, Burkina Faso e Níger.
Como o Gana e o Chipre, membros associados, passaram a membros oficiais, o número total de países da OIF aumentou para 93 com a adesão de Angola e mais quatro novos membros observadores: Polinésia Francesa, Chile, Sarre (Alemanha) e Nova Escócia (Canadá).
Angola, que se junta como membro observador numa cerimónia no Grand Palais, em Paris, era o único país lusófono em África que não era membro, uma vez que Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe são membros de pleno direito da OIF.
Já Moçambique, membro observador, faz também parte da Commonwealth, comunidade constituída por 56 países, a maioria antigos territórios do Império Britânico.
O Executivo angolano tinha oficializado no dia 17 de Maio de 2019, em Paris, a candidatura do país a membro observador da OIF, um ano após o Presidente angolano – não nominalmente eleito – general João Lourenço (igualmente Presidente do MPLA – no Poder há 49 anos – e Titular do Poder Executivo), manifestar a intenção ao seu homólogo francês, Emmanuel Macron, durante uma visita oficial a Paris.
Na altura, o ministro angolano das Relações Exteriores, Manuel Augusto, explicou que a intenção se baseia no facto de Angola ter relações privilegiadas com países francófonos e pretender reforçar a integração com a comunidade francófona.
Como povo poliglota, sobretudo porque graças a um sistema escolar implantado pelo MPLA ao longo de 49 anos, falamos todas as línguas até mesmo quase o português, consta que Angola tem 4,5 milhões de falantes de francês, sendo por isso o país lusófono mais francófono de África.
Em Maio de 2018, durante a visita oficial a França, o presidente João Lourenço manifestou o interesse de Angola em ser membro da Organização Internacional da Francofonia, considerando que Paris é para o MPLA a porta de entrada na Europa. Não poderia ter sido mais claro.
João Lourenço dá (quer dar) um xeque-mate à CPLP e, não satisfeito por ver Portugal de cócoras, quer mesmo enxovalhar ao máximo o velho colonizador.
Portugal começa já, aliás, a ter saudades de José Eduardo dos Santos. Revelando um enorme complexo de inferioridade, João Lourenço quer a todo o custo banir da sociedade angolana aquilo que, de facto, só existe na torpe mentalidade de alguns dirigentes do MPLA – a Síndrome de Estocolmo.
João Lourenço quando olha ao espelho arrepia-se. Sofre (mas não o admite) de um estado psicológico em que a submissão durante muito tempo a um processo de intimidação o leva a querer matar o “pai” e assim erradicar a simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade que sente pelo seu suposto agressor.
Quanto à entrada para a Francofonia, como já fez Moçambique, João Lourenço tem razão. Portugal está a começar a pagar os juros da sua inépcia. Durante muito tempo, durante sempre, Portugal olhou só para a Europa e a França, sem esquecer o velho continente, olhou para o mundo inteiro.
Portugal está há muito tempo (há demasiado tempo) adormecido com o sonho europeu, esquecendo que a sua História está também e sobretudo em África. Ou seja, o presente (já com cheiro a passado) é em Bruxelas mas o futuro será (ou deveria ter sido) certamente em Luanda ou Maputo.
Quando acordar vai ter um enorme pesadelo. De uma forma geral, Portugal continua a valorizar o acessório e a subestimar o essencial, seja qual for o governo. Por isso, julga que o idioma (preferimos falar da língua) é algo que não precisa de ser alimentado, que não precisa de ser valorizado.
É pena. Por este andar, não tardará muito que a Lusofonia dê lugar à francofonia ou a outra fonia qualquer. É isso que João Lourenço quer, não tanto por razões estratégicas mas apenas para mostrar que já ultrapassou o complexo do colonizado.
Em vez de se potenciar a língua como o principal elo de ligação, como factor decisivo de todas as outras vertentes da sociedade globalizada, Portugal pensou – adoptando uma máxima do MPLA – a que vitória não só era certa como era eterna. E não é.
No seio da Europa, Portugal apenas está a aguentar-se. Provavelmente a certidão de óbito já está passada. Apenas isso. E até mesmo em matéria cultural poderia dar, ou voltar a dar, luz ao mundo. No entanto continua a olhar para o umbigo.
Nas comunidades de origem portuguesa, as novas gerações pouco ou nada falam português. Nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) assiste-se ao legítimo proliferar dos dialectos locais e ao galopante êxito do inglês. O Português tenderá (se nada for feito, se tudo continuar na mesma) a ser apenas uma língua residual.
Ao contrário do que fazem franceses e ingleses, os portugueses têm por hábito deixar para amanhã o que deveriam ter feito anteontem.
Não existe, na língua como noutros sectores, uma conjugação estratégica de objectivos. Cada um rema para o seu lado e, é claro, assim o barco comum (a Lusofonia) não chega a nenhum porto. Em muitos casos nem chegou a sair do porto… de abrigo. Há projectos sobrepostos, e muitas áreas onde ninguém chega. Ninguém não é verdade. Chegam os ingleses, os franceses, os norte-americanos e até os chineses.
A CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) deveria ser o organismo que, por excelência, poderia divulgar a língua. Está, contudo, adormecida. Quando acordar verá que a Lusofonia já morreu…
É claro que o futuro de Portugal passa necessariamente por África. Mas o futuro dos PALOP não passa obrigatoriamente por Portugal. Ao contrário de outros tempos, Lisboa não está interessada em dar luz ao mundo. Ao contrário de muitos outros países que estão na UE mas também em África. Mas não só.
Ou seja, a China, por exemplo, está a preparar muitos dos seus melhores quadros para que dominem a língua portuguesa. Fazem-no para conquistar os mercados lusófonos. Nada mais do que isso.
De uma forma geral, todos (mais uns do que outros, importa dizê-lo) continuam à espera que o burro aprenda a viver sem comer. Mas, quando olharem para o lado, vão ver que quando o burro estava quase a saber viver sem comer… morreu.
Acresce que Portugal ainda não percebeu que foi o «pai» mas que os «filhos» já são independentes. Os países africanos ainda não compreenderam que o «pai» errou em muitas coisas mas que não é por isso que deixou de ser «pai».
A Lusofonia, essa realidade que em muito ultrapassa os 280 milhões de cidadãos em todos os cantos do planeta, parece condenada a ser ultrapassada, ou até mesmo aniquilada. Parafraseando Luís de Camões, em português se canta o peito ilustre lusitano e, na prática, importa recordar que a ele obedeceram Neptuno e Marte. Além disso, importa dizê-lo, manda cessar (se para tal todos os lusófonos tiverem engenho e arte) «tudo o que a Musa antiga canta».
Quando será que, de forma consciente e consistente, Portugal entenderá que «outro valor mais alto se alevanta»? Por culpa (mesmo que inconsciente) dos poucos que não vivem para servir e que, por isso, não servem para viver, continuam os milhões que se entendem em português a comer e a calar, amordaçados pela mesquinhez dos que se julgam detentores da verdade.
É claro que, como em tudo na vida, não faltarão os que dirão que não é possível entregar a carta a Garcia. Dirão isso e, ao mesmo tempo, apontarão a valeta mais próxima.
A História do Mundo desmente-os. A História de Portugal desmente-os. Além disso, não custa tentar o impossível, desde logo porque o possível fazemos nós todos os dias. Mas não será com esses que se fará a História da Lusofonia apesar de, reconheça-se, muitos deles teimarem em flutuar ao sabor de interesses mesquinhos e de causas que só se conjugam na primeira pessoa do singular.
Para nós, a Lusofonia deveria ser um desígnio de todos. Defender esta tese é, provavelmente, pregar para os peixes. Mas vale a pena continuar a lutar. Lutar sempre, apesar da indiferença de (quase) todos os que podiam, e deviam, ajudar a Lusofonia.